A ameaça do ex-presidente americano Donald Trump de impor tarifas de até 50% sobre importações da União Europeia (UE) reacendeu debates sobre o acordo comercial entre o bloco europeu e o Mercosul. Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que essa escalada na guerra comercial pode enfraquecer a resistência da França ao tratado, cuja conclusão depende da aprovação dos Estados-membros da UE.
Acordo Mercosul-UE e a oposição sa
Mesmo com boas relações bilaterais, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem se mostrado veementemente contrário ao acordo, classificado por ele como “inaceitável”. O tratado, firmado em dezembro ado em Montevidéu após 25 anos de negociações, ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento Europeu.
A França justifica sua oposição com base em pressões do setor agrícola, que teme a concorrência com produtores do Mercosul. Agricultores ses argumentam que seguem normas sanitárias e ambientais mais rígidas, e que o acordo poderia ameaçar milhares de empregos. O receio de novos protestos, como os bloqueios de rodovias registrados no ano ado, também pesa nas decisões do governo francês.
A escalada tarifária dos EUA
Inicialmente, os Estados Unidos anunciaram tarifas de 25% sobre produtos europeus em fevereiro. Em maio, a alíquota foi elevada para 50%, com previsão de entrada em vigor em 1º de junho. Após novo recuo, Trump adiou a medida para 9 de julho. No entanto, para produtos como aço e alumínio, a tarifa já começou a ser aplicada na semana atual.
A possibilidade de agravamento da guerra comercial tem levado autoridades europeias a considerar a ratificação do acordo com o Mercosul como uma forma de reduzir impactos econômicos.
Concessões e mudanças no texto do tratado
O professor Jean-Jacques Bourgeot observa que, diante da fragilidade política interna — com ausência de maioria no Parlamento —, Macron poderia tentar pequenas modificações no texto para justificar uma mudança de postura, mesmo que simbólica.
Em abril, durante encontro com o ministro brasileiro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro francês das Finanças, Éric Lombard, itiu que a ameaça americana exige acelerar as discussões. Ainda assim, reforçou que o acordo precisa de ajustes, principalmente em relação à pegada ecológica, à área industrial e à agricultura.
O impacto econômico do tratado para a França
Para o presidente do Banco Central francês, François Villeroy de Galhau, o acordo poderia ajudar a amortecer os efeitos das tarifas americanas sobre o comércio exterior francês.
Já o economista Philippe Barbet, da Universidade Sorbonne Paris Nord, avalia que o acordo é equilibrado e benéfico para os setores industrial e de serviços da Europa. No entanto, reconhece que há desvantagens para a agricultura sa, especialmente nos segmentos de carne e cereais. Ainda assim, destaca que as importações de carne do Mercosul representam apenas 1,3% do consumo da França.
Resistência diplomática sa permanece
Apesar do contexto internacional, fontes diplomáticas afirmam que a França mantém sua oposição ao tratado. “Pensamos que esse acordo não é bom para a economia sa, especialmente para os consumidores e produtores agrícolas europeus”, afirmou uma fonte à BBC News Brasil. Ainda segundo a diplomacia sa, a política comercial da UE deve estar alinhada com metas ambientais e regulatórias do bloco.
Relações comerciais entre Brasil e França
Em 2023, a França ocupou a 29ª posição entre os principais destinos das exportações brasileiras, e foi o 8º maior fornecedor de produtos ao Brasil. A balança comercial bilateral somou cerca de US$ 9 bilhões, com superávit francês. As importações brasileiras da França aumentaram 11%, alcançando US$ 6,1 bilhões, enquanto as exportações brasileiras ao país europeu ficaram estáveis em US$ 2,9 bilhões.
Próximos os e expectativa europeia
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, demonstrou otimismo de que o acordo Mercosul-UE possa ser finalizado até dezembro. Com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França, prevista para começar nesta quarta-feira (5/6), o tema deve ganhar destaque nas reuniões com Emmanuel Macron e poderá influenciar os rumos da negociação.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio